sábado, 12 de dezembro de 2009

Carlos Gonzaga - Bat Masterson.wmv

Peço licença aos leitores. Estamos em plena COP-15, mas quero uma rápida licença para um registro pessoal. Algo que não tem nada de ecológico ou sustentável. Aliás, talvez haja poucas épocas mais anti-ecológicas do que o "velho oeste americano". .

Morreu Gene Barry, aos 90 anos. Barry encarnou ninguém menos que Bat Masterson, que a maioria das pessoas hoje desconhece. Em sua homenagem, o vídeo com a inesquecível música tema, na deliciosa versão brasileira de Carlos Gonzaga.

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Beds Are Burning - TckTckTck Campaign (time4climatejustice)

RAISE YOUR VOICE and change climate change !

A distribuição do esforço para redução de emissões

Agora os principais países em desenvolvimento apresentaram suas "metas" de redução de emissões. Os Estados Unidos também apresentaram uma. China e Índia falam em intensidade de carbono. Ou seja, em reduzir a quantidade de emissões por unidade do PIB. Isso significa que os dois países poderão continuar aumentando suas emissões. Estima-se que podem até dobrar as emissões atuais até 2020.  A meta dos EUA usa como referência as emissões do ano de 2005. Se fossem usadas as emissões de 1990, a proposta do governo americano significaria reduções de 4%. Pouco mais da metade das reduções previstas no Protocolo de Kyoto para os EUA.
Ou seja, ainda há muito o que se evoluir nas propostas destes países e na discussão de um acordo internacional. Dificilmente se chegará ao nível de redução de emissões realmente necessário. Mas para quem acompanha as negociações internacionais há mais tempo, é alentador ver todos esses países ao menos assumindo algum tipo de compromisso. Seja mandatório ou voluntário.
Mas queria mesmo, depois dessa longa introdução, falar de um excelente artigo sobre o assunto, escrito pelo sempre lúcido professor Luís Carlos Bresser-Pereira. Saiu na Folha de S.Paulo, mas você pode ler, sem ser assinante do jornal, no próprio site do professor, no link a seguir: Aquecimento Global e Equidade
Ele apresenta para discussão uma proposta que eu desconhecia. Mas, assim como o professor, achei interessante. Trata-se de estabelecer o máximo de emissões per capita que o planeta é capaz de suportar para se atingir o limite máximo de dois graus centígrados de aumento na temperatura até 2050. Esse limite seria a meta para todos os países. Naturalmente, exigiria maior sacrifício quanto mais desenvolvido for o país. A medida  eliminaria a discussão pelas emissões passadas e colocaria uma meta facilmente verificável e comparável internacionalmente.
Me parece que realmente esta é uma proposta que trabalha com a questão da equidade entre os países. Mas minha dúvida é: e a equidade dentro dos países? Como serão distribuídos os cortes para se atingir essas metas entre os cidadãos? Implantar algo assim exigiria uma tremenda força política dentro dos países, porque certamente seriam necessárias medidas duras de controle de consumo de energia para as pessoas mais ricas, para as grandes empresas e mesmo para boa parte da classe média. Haveria como aprovar medidas deste tipo, por exemplo, nos Estados Unidos, onde a população é sempre refratária a medidas governamentais de restrição à liberdade individual? Ainda mais sendo medidas impostas de fora para dentro do país?    

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Austrália na vanguarda do atraso


No post "Hu Jintao respondeu. Agora, vamos cobrar da Índia" eu citei a Austrália como a má companhia da Índia. Enquanto a Índia mantém a posição equivocada de que aos países em desenvolvimento não cabe nenhuma responsabilidade no esforço global de redução de emissões, a Austrália é um caso ainda pior. Até a responsabilidade humana pelo aumento do aquecimento global é contestada. Uma boa desculpa para não fazer nada. Vejam mais nesse artigo no site do "The Guardian": Australia: A nation for heads in the sand

Gisele Bündchen - Seal The Deal! 2009

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Hu Jintao respondeu. Agora, vamos cobrar da Índia.

Pois bem, a China respondeu ao apelo e também anunciou sua meta de redução de emissões. É uma meta ao padrão chinês. Assim como o Brasil apresentou uma maneira "alternativa" para sua contribuição ao esforço internacional pela redução de emissões de gases de efeito estufa, a China também encontrou uma forma diferente de fazer sua proposta. No caso brasileiro, trata-se de uma mudança de trajetória na perspectiva de crescimento econômico. Como se diz no jargão das negociações internacionais, vamos reduzir até 39% do que emitiriamos nos próximos anos se seguissemos o padrão "business as usual"(BAU). No caso da China, eles falam em reduzir a emissão por unidade do PIB. Ou seja, a economia do país vai continuar crescendo, mas com um padrão de consumo energético cada vez menos intenso. A idéia é consumir menos energia para o mesmo padrão de crescimento.
É pouco? Sim, é. Mas Brasil e China, que como países em desenvolvimento não tem obrigação de reduzir emissões, de maneira a desenvolver suas economias e atender as necessidades básicas de boa parte de sua população, já estão apresentando muito mais do que muitos países desenvolvidos, com uma enorme carga histórica de emissões a pagar.
Mas, já que tem dado certo, vamos continuar as cobranças: e a Índia?
Bem, a perspectiva com a Índia não é nada animadora. Autoridades do país já anunciaram que não pretendem apresentar proposta de redução de emissões. Aparentemente, com isso a Índia chegará isolada a Copenhage. Ou pelo menos na má companhia da Austrália, outro país que ainda não entendeu o problema das mudanças climáticas e seus possíveis efeitos.
A Índia já foi uma das principais responsáveis por não ter se chegado a um bom resultado em outro foro internacional de negociações, a Rodada Doha, que trata de comércio internacional. A nossa sorte é que nas negociações do clima, ao contrário do que ocorre no âmbito da OMC, as decisões não precisam ser consensuais. Se a Índia mantiver sua posição atual, corre o risco de simplesmente ser levada de roldão pela força da pressão por um acordo. Ao menos é isso o que esperam todos que acreditam que ainda há esperança de um acordo efetivo em Copenhage.   

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Será que o Obama leu?

É brincadeira, claro. Posso ser pretencioso, mas ainda não está na hora de me internarem...
Em todo caso, não é que o Obama respondeu à minha cobrança(veja abaixo, no post "Sendo cabotino")? Os EUA apresentaram uma meta de redução de 17% até 2020 em suas emissões de gases de efeito estufa, com base nos números de 2005. Está muito aquém da contribuição devida pelo maior emissor histórico do planeta, mas é um passo gigantesco dado o histórico dos EUA no assunto.
E já que funcionou, não custa agora repetir a cobrança para aquele que ainda não respondeu: e aí Hu Jintao, a bola agora está contigo? Qual será a posição da China em Copenhage?

i speak earth - Action at COP15, Cate Blanchett

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Sendo cabotino




O título do post já mostra que tenho consciência do que estou fazendo, mas não resisto. Na tarde em que Estados Unidos e China anunciavam seu acordo para "melar" a COP-15, eu escrevia o post "O nó da questão(ou um dos principais)". Ali eu mostrava o papel essencial da China no atual estágio das negociações internacionais para um novo acordo do clima. E a China, como está explicado ali, não é importante apenas porque é um dos maiores emissores de gases de efeito estufa e vem ampliando cada vez mais suas emissões. Ela é importante para os EUA, o outro país-chave. Porque se a China resolvesse assumir uma postura mais ousada e admitir metas de redução de suas emissões(ou, como o Brasil, admitir um "desvio de rota" no crescimento de suas emissões), os EUA ficariam numa situação insustentável e também teriam que tomar alguma atitude mais efetiva. Em vez disso, os dois resolveram se unir, para resistirem juntos à pressão dos demais países.
E o Brasil tem um papel essencial nessa pressão. Por mais que a meta brasileira mereça internamente uma discussão(daria pra ser maior? ela virá acompanhada de um programa de implementação? todos os setores do governo serão envolvidos no esforço de cumprimento da meta? ela será incorporada ao planejamento de todas as políticas públicas?), ela colocou o país em uma posição de vanguarda nas negociações, eliminando as desculpas que principalmente os EUA usavam para não assumir sua própria meta de redução de emissões. Eles cobravam que Brasil, Índia e China também deveriam colaborar no esforço mundial. Pois bem, o Brasil apresentou sua colaboração. Como é que fica Obama? E você, Hu Jintao, o que diz?

terça-feira, 17 de novembro de 2009

De onde vem sua comida?



Fim de semana na praia, na casa de amigos em Bertioga-SP. Eu e minha mulher, que somos preocupados com a questão ambiental, fomos a um novo supermercado Pão de Açúcar, na Riviera de São Lourenço. Voltamos comentando como o lugar é mais bonito e tem mais variedade de produtos do que o mercado antigo que existia ali, incluindo muitos importados de qualidade difíceis de achar até na capital. E ouvimos da nossa anfitriã, a jornalista Cláudia Liz: "É. É bonito, mas eu gostava mais do mercado antigo. Ele tinha produtos que pareciam ser todos da região".
Bingo! Ela havia acabado de usar um dos conceitos mais eficientes em termos socioambientais. Se preocupar com o local de origem daquilo que você compra, especialmente alimentos, ajuda a reduzir o impacto ambiental(com menos gastos em transporte, armazenagem, etc.) e promove a economia local, beneficiando famílias e produtores da região. Algo que só demonstra que ter preocupação ambiental não significa apenas ter hábitos novos. Quer coisa mais tradicional do que comprar frutas, verduras e legumes na feira-livre mais perto da sua casa? E apesar de muita coisa vir do Ceasa e talvez ter origem no outro lado do país(ao menos nas feiras de São Paulo), é muito mais provável que ao comprar na feira você esteja adquirindo parte da colheita de um produtor da sua região.
Ou seja, por mais "antenado" que você se considere com a questão ambiental, ter atitudes socioambientalmente mais justas é um exercício diário e constante de aprendizado. É fácil a gente se deslumbrar com um mercado bonito, bem iluminado, com produtos sofisticados. Mas a nossa feirinha humilde, na rua mais próxima, pode no fim ser uma opção bem melhor para as compras...
Se quiser ler mais sobre o assunto, sugiro um texto que saiu no último encarte da Folha de S.Paulo com matérias retiradas do "The New York Times". O título do texto é Mesmo espinafre deixa pegada de carbono
Infelizmente, o link só acessível para quem é assinante da Folha. Mas pelo título tenho certeza que você chegará ao texto através de um mecanismo de busca.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Copenhage

Fiquei em dúvida se valeria a pena manter a "Ampulheta do Clima", da coluna ao lado, que conta o tempo que falta para a COP-15, em Copenhage. Agora que EUA e China combinaram entre eles que nada pra valer será acertado nessa reunião, não há motivo para tanta expectativa. Mas como esperançoso inveterado, mesmo sem nenhum motivo concreto para isso neste caso, resolvi manter. Vamos ver se, de repente, até lá não há uma reversão nas expectativas nos próximos dias...

domingo, 15 de novembro de 2009

O nó da questão(ou um dos principais)

A China é um dos maiores nós nas negociações internacionais para um novo acordo sobre mudanças climáticas. Os países desenvolvidos(Estados Unidos à frente) não querem deixar a China livre de obrigações quanto à redução de emissões de gases de efeito estufa. Afinal, a China se tornou o maior emissor atual de CO2. Pedido justo, não? Bem, as coisas não são tão simples. Quando se leva em consideração as emissões per capita, as da China equivalem a uma quarto das dos EUA, por conta do tamanho da população chinesa e do seu nível de pobreza. Logo, não se pode exigir da China o mesmo nível de redução de emissões dos EUA. Sem contar a questão do tempo: só agora a China aumentou suas emissões. Já os EUA vêm emitindo fortemente gases de efeito estufa há centenas de anos.
O Brasil e sua meta não-obrigatória de redução colocaram mais pressão ainda sobre a China. Os dois países, mais a Índia, eram os principais destinatários das cobranças dos países desenvolvidos por uma postura mais ativa no esforço global pela redução de emissões de gases de efeito estufa. Pelo tamanho destes países e por serem considerados já de "médio desenvolvimento". No entanto, a China também tem o que apresentar em termos de mudança no padrão de desenvolvimento. Apesar de ter sua matriz energética ainda fortemente dependente do terrível carvão mineral, o país é um dos que mais investe em fontes alternativas de energia.
Abaixo, um gráfico que mostra as emissões de CO2 da China, totais e per capita, comparadas com as dos outros maiores emissores mundiais.
E, logo depois, um gráfico comparativo do crescimento da energia eólica na China e nos EUA.
(lembrando que é só clicar nos gráficos para vê-los em tamanho maior)



 

O endereço dos estragos do aquecimento global(e suas vítimas)

Quem sabe o uso de dados consistentes como estes não convença o pessoal "desenvolvimentista" de que atuar para reduzir os efeitos do aquecimento global é uma questão não apenas ecológica, mas social. Das cerca de 2,6 bilhões de pessoas que vivem no mundo com menos de dois dólares por dia de renda, 2  bilhões estão em áreas rurais de países cujas economias e pessoas são mais dependentes de recursos naturais. E, portanto, são mais vulneráveis às mudanças projetadas para a produtividade agropecuária com o aquecimento global. Veja mapa do World Resources Institute sobre essas mudanças(clique sobre a imagem para vê-la em tamanho maior).






World Resources 2008: Roots of Resilience - Growing the Wealth of the Poor.  Washington, DC: World Resources Institute. Available online: http://www.wri.org/publication/world-resources-2008-roots-of-resilience.

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Menos gente, menos emissões



O artigo é da "The Economist" da semana de 21 de setembro, mas ainda vale o comentário: "Fewer people would means lower  greenhouse-gas emissions" trata de estudo de Thomas Wire, estudante de pós-graduação da London School of Economics, destacado na "The Lancet" de 19 de setembro.
O estudo considera as projeções de crescimento tanto da população mundial quanto das emissões de dióxido de carbono para o período de 2010 a 2050 e conclui que garantir o acesso a métodos anticoncepcionais a todas as mulheres que desejarem evitar a gravidez no período pode permitir a redução de emissões de carbono a um custo de US$ 7 por tonelada, contra o custo de US$ 32 por tonelada do investimento em tecnologia "verde". Mais que que fornecer argumentos para aqueles que lutam contra o investimento nesse tipo de tecnologia, o estudo é mais um indicador da necessidade de se pensar na reorganização da economia de uma maneira - desculpem o termo - holística. Ou seja, descarbonizar a economia é algo que exige uma abordagem abrangente em relação ao nosso modo de vida.
Pra quem gosta do tema, além do link para o artigo da "The Economist"( http://www.economist.com/world/international/displaystory.cfm?story_id=14488619 ), vou dar o link, em PDF, do estudo que gerou o artigo ( http://www.optimumpopulation.org/reducingemissions.pdf ). E para quem não lê em inglês, achei uma nota sobre o estudo na BBC Brasil( http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/09/090911_natalidadeclimaebc.shtml )

Obs.: a foto acima(Gideon Mendel/CORBIS)  é a mesma que ilustrou o artigo na The Lancet.

domingo, 1 de novembro de 2009

Uma mancada

O professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite é um valoroso defensor do álcool combustível. Tem um papel extremamente importante na consolidação do programa brasileiro. E é autor de bons textos, com argumentação bem fundamentada, em resposta aos que ainda tentam se vender como céticos em relação ao aquecimento global(e quanto ao papel dos gases de efeito estufa para esse aquecimento). Esta semana, o professor resolveu se insurgir contra duas medidas do Ministério do Meio Ambiente que afetaram o álcool(ou etanol, nome internacionalizado que estão tentando emplacar também por aqui). No artigo("Uma mincada é uma mincada...") ele bate forte na gestão de Carlos Minc no MMA. Bem, acho que ele acertou num argumento, mas foi injusto em outro.
Também considero desastrada a iniciativa do MMA de divulgar um ranking de emissões de poluentes de veículos, desconsiderando diversos poluentes e fazendo uma confusão que acabou colocando os carros flex entre os "mais poluentes" do país. O ranking, ao final, não serviu pra nada, a não ser depreciar a tecnologia usada no Brasil.
No entanto, o professor ataca também a proibição da expansão da cultura da cana-de-açúcar para áreas do Cerrado, da Amazônia e de outros biomas importantes. Ele argumenta que a cana costuma apenas ocupar áreas já degradadas anteriormente pela pecuária ou outras culturas "decadentes". Leite aposta que a medida é desnecessária e vai servir de combustível(me desculpem o trocadilho) para aqueles que tentam manchar a imagem do álcool brasileiro no mercado internacional. Seria a prova de que o álcool pressiona a ocupação desses biomas. E argumenta ainda que houve uma preocupação em relação à cana, mas na verdade apenas retiraram essa cultura da disputa por terras valorizadas, facilitando a vida dos produtores de soja e dos pecuaristas, que verdadeiramente são os destruidores da região(e dominam a bancada ruralista, que o governo não teria coragem de confrontar).
Mas, caro professor, se a cana não precisa de terras no Cerrado ou na Amazônia, ela já estava fora da disputa com pecuaristas e produtores de soja. Certo? E o combate à ocupação dessas áreas deve ser feito, independentemente de qual seja a cultura. Em relação às argumentações no mercado internacional, os detratores já espalhavam antes que a cana estava pressionando pela ocupação dessas áreas. Agora, temos uma lei para responder a essas argumentações.
Eu estou entre os que consideram que o álcool combustível é sim um dos elementos do mix que pode nos ajudar a descarbonizar a economia mundial. Mas isso não significa que não devemos adotar salvaguardas para a expansão do uso do álcool. Seja aqui, seja fora. Sim, há uma mistura de disputa comercial com questões ambientais nessa área. Temos que estar atentos a isso. Mas a nossa defesa do uso do álcool também tem que considerar o impacto dessa cultura, para não repetirmos os erros do passado.

Para quem se interessou, o link para o artigo do professor(infelizmente, restrito a quem é assinante da Folha de S.Paulo, onde foi publicado):
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2910200908.htm

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

O Artífice


Li recentemente um livro ótimo para quem quer estudar ou entender melhor essa busca atual por uma revisão no nosso modo de viver. Trata-se de "O Artífice", do sociólogo americano Richard Sennet, professor da London School of Economics e do MIT. O livro é o primeiro de um projeto de três volumes que, segundo o autor, serão dedicados à cultura material. "O Artífice" trata da capacidade de fazer bem as coisas. O autor coloca o processo individual de elaboração de um trabalho(não apenas o trabalho artesanal, como o nome do livro pode fazer supor) e a ligação entre a mão e a mente nesse processo, como algo superior ao processo de divisão do trabalho prevalecente na sociedade moderna. Não se trata de uma proposta de volta aos tempos do artesanato. Segue, na verdade, uma linha de pensamento que o autor vem desenvolvendo sobre as mudanças que estão ocorrendo no mundo do trabalho e seus possíveis efeitos sobre a sociedade.
E nada mais relacionado com a mudança para uma socieade mais sustentável que a mudança no mundo do trabalho. Uma prova disso está nas etapas seguintes do projeto de Sennet. O segundo livro vai abordar a elaboração de rituais para enfrentar a agressão e o fanatismo. E o terceiro, "explora as aptidões necessárias para criar e habitar ambientes sustentáveis". Já fiquei na expectativa desse terceiro.
É isso. Se pareceu interessante: "O Artífice", de Richard Sennet, Editora Record.

E ainda o Nobel

O trabalho de Elinor Ostrom(ok, prometo que é o último post sobre o assunto. Pelo menos até que eu leia algum livro dela) lembra um pouco uma linha de pensamento que li para o meu mestrado: o Institucionalismo (que eu gosto de classificar como uma vertente mais civilizada do pensamento liberal). Me desculpem o proselitismo, mas vou citar um trecho de minha monografia e comparem com o que falei abaixo sobre o trabalho de Ostrom: "Ronald Coase, um dos nomes iniciais dessa escola, propôs uma fórmula que promovesse a negociação entre agentes poluidores e os afetados pela poluição, para que as duas partes chegassem a um acordo 'ótimo'. Para Coase, instituições como direitos de propriedade garantidos e um sistema judicial eficiente na garantia de contratos, podem assegurar um ambiente de regulação em que as partes possam chegar a esse acordo benéfico para ambos, a um baixo custo de transação". Lembra, não?
Bem, não vou entrar em mais detalhes, pra não ficar aborrecido(se é que já não está), mas a partir da análise de Coase e mais até de Douglass North, outro autor institucionalista, eu coloco ali como essa efetividade da atuação comunitária questiona um dos pilares do pensamento liberal, de que a motivação das pessoas seria sempre voltada à maximização de seus interesses próprios. Ou seja, o comportamento auto-interessado. Aqui, o melhor a tratar disso foi o também Nobel de Economia, Amartya Sen. De novo, me citando: "Sen lembra que a interpretação da racionalidade como auto-interesse funciona de maneira precisa para boa parte do comportamento humano e foi extremamente útil na evolução da ciência econômica. Ele só destaca que ela não pode ser confundida como o único comportamento realmente verificável". Agora, o próprio Sen, ao tratar do comportamento cooperativo:
"O comportamento, em última análise, também é uma questão social e pensar em termos do que 'nós' devemos fazer ou qual deve ser 'nossa' estratégia pode refletir um senso de identidade que encerra o reconhecimento dos objetivos de outras pessoas e das interdependências mútuas existentes"(Sobre Ética e Economia, Amartya Sen, Cia das Letras,pág. 101)

Enfim, não se questiona o mercado e suas regras formadoras de preços. Nem se pode prescindir do Estado e seu papel regulador.

Obs.: Só pra ficar claro, se não ficou acima: não estou dizendo que minha tese sequer roça no trabalho de Elinor Ostrom, claro. Estou apenas dizendo que outros autores vêm trabalhando nessa mesma linha de pensamento que demonstra como o comportamento econômico pode ser movido por algo mais que o auto-interesse. Este humilde escriba apenas citou essa linha de pensamento na dissertação(nada mais do que uma obrigação, dado o tema do trabalho).

De novo o Nobel

Depois de muito ler sobre o Nobel de Economia, deu pra entender melhor a obra de Elinor Ostrom(claro que não tão bem como se eu tivesse lido a própria obra). E é muito engraçado ver as análises publicadas, de acordo com os veículos. Na Exame ou na Veja, trata-se de alguém que mostrou que o Estado é desnecessário para cuidar dos "commons"(os bens comuns, que não tem preço de mercado e que, pela teoria tradicional, tenderiam a ser devastados). Não é bem isso que ela diz. O mais interessante, como tudo que é sério e tem a ver com a questão da sustentabilidade, é que a teoria dela não atende nem ao pensamento liberal tradicional(anti-Estado), nem ao pensamento de esquerda tradicional(Estado forte). Ela mostra a importância da comunidade que vive daquele bem. De como essa comunidade, bem informada e assessorada, é capaz de gerir esse bem de forma sustentável. Ou seja, o Estado tem sim seu papel nessa equação. Um bom comentário sobre o assunto está no blog "Sustentável é Pouco", do Denis Russo Bugierman(que, por paradoxal que seja em relação ao escrito acima, está hospedado no site da Veja...): http://veja.abril.com.br/blog/denis-russo/cultura-livre/uma-imagem-chocante/

domingo, 18 de outubro de 2009

Antropocentrismo

Há algum tempo surgiu uma discussão numa rede da qual participo. Começou com uma observação de que o “verdadeiro” ambientalista não come carne. Pra começo de conversa, não sei nem se posso me considerar um ambientalista. Depois, tenho uma resistência brava a generalizações e, por isso, acho difícil definir o que é verdadeiro. Acabei participando da discussão de maneira equivocada. Defendendo o direito a uma picanha eventual, apesar de achar que realmente é necessário reduzir o nível de consumo de carne. Me excedi em algumas observações.

Bem, mas o que me incomodou mais e que interessa aqui é o argumento de alguém, em meio à discussão, de que nos achamos no direito de consumir a carne de outras espécies porque privilegiamos a nossa. Seria sinal de “antropocentrismo”.
Isso não é um comportamento natural? Todas as espécies de animais tentam se manter vivas. E para isso consomem outras espécies. O problema da nossa espécie é não ter limites para seu consumo. Não consome apenas para sobreviver, como todas as outras. Consome além de suas necessidades. A nossa grande questão é estabelecer esses limites.
Parece uma conclusão banal e óbvia, mas creio que muitas vezes perdemos essa noção. Extrapolando, acho que é a perda dessa noção que faz com que muitos tenham dificuldade de entender que é normal uma situação em que uma comunidade acostumada a desmatar para retirar disso sua sobrevivência não aceite facilmente a argumentação de que é preciso encontrar outra forma de se manter. Para conseguirmos interromper o desmate, temos que oferecer uma opção para essa comunidade. Se não, seus integrantes farão o que qualquer outra espécie faria: continuarão trabalhando do jeito que sabem para garantir comida para si e seus descendentes. Mesmo que isso leve à destruição do ambiente em que vivem.
A nossa sorte é que temos consciência dos efeitos de nosso comportamento e podemos modificá-lo antes que ele resulte no desastre absoluto. É preciso disseminar essa consciência de que somos parte de um ambiente e nossos excessos tem efeitos. Mas é preciso compreender que sempre os humanos tentarão manter sua espécie viva. E farão isso a custa de outras espécies, se for necessário. É preciso evitar que isso seja necessário. Mas é impossível impedir que isso aconteça em alguns casos.
Sim, somos antropocêntricos, assim como o tigre é felinocêntrico, a baleia é cetaciocêntrica e a aranha é aracnocêntrica. Se é que estes termos existem. O problema é que, como somos a espécie dominante, os efeitos do nosso comportamento são multiplicados.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Temos metas. E agora?

A cidade de São Paulo assumiu uma meta de redução de emissões de gases de efeito estufa de 30% até 2012, a Assembléia Legislativa de São Paulo assumiu uma meta estadual de redução de 20% para 2020(tendo o ano de 2005 como referência) e nos próximos dias o governo federal deve anunciar a meta brasileira, a ser defendida na COP-15. Ok, estamos dando um passo à frente. A grande questão agora é, mais que ter metas, integrar as políticas públicas para atingi-las. Essa questão não pode ficar restrita às "secretarias do meio ambiente". Mais que um item novo no rol de promessas políticas, a construção da chamada economia de baixo carbono exige uma revisão geral do pensamento político-econômico.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Gorilas, elefantes e a COP-15

Não faltam questões a serem discutidas em Copenhage, em dezembro. Mas cada vez mais surgem detalhes curiosos dos efeitos das mudanças climáticas sobre a natureza. Ian Redmond, embaixador das Nações Unidas para o Ano do Gorila, defendeu que a preservação de gorilas e elefantes na África entre nas discussões dos países durante a COP-15. Segundo ele, a estimativa é de que gorilas e elefantes do continente dispersam por dia cerca sete bilhões de sementes. Eles têm, portanto, papel chave na preservação das florestas africanas, que ajudam a absorver dióxido de carbono, principal gás de efeito estufa.

Nobel para quem pensou em sustentabilidade


Não conheço a obra de Elinor Ostrom, uma das ganhadoras do Prêmio Nobel de Economia deste ano, anunciado nesta segunda-feira(12). Mas pelo que li, ela aborda uma questão importantíssima da Economia do Meio Ambiente. Um dos paradigmas dessa matéria é de que o problema do uso descontrolado dos recursos naturais decorre deles não terem "preço de mercado". Por estarem fora do mercado, recursos como água, ar limpo ou mesmo paisagem não têm preço. O seu uso ou sua degradação não custam nada. Para resolver a questão, uma linha de pensamento defende meios de criar custos para isso, através de taxas. Ou seja, da intervenção do Estado. A economista ganhadora do Nobel defende que há outros meios mais eficientes, através da própria sociedade, para estabelecer regras de exploração dos recursos naturais.

Este pelo menos foi o destaque dos órgãos de comunicação "liberais", que sempre adoram quando alguém procura evitar a intervenção do Estado em alguma questão e defende a "auto-regulação".

O certo é que é preciso conhecer melhor a obra de Elinor Ostrom e sua abordagem. Mas só o fato de alguém que estuda essa questão ter ganho o Nobel já é algo a ser comemorado.

Globesidade



A revista Veja usou o termo há algumas semanas, mas abordando apenas a "globalização da obesidade". Um livro lançado nos EUA, no entanto, trata de "globesidade" com uma tese curiosa. Mostra que a epidemia mundial de obesidade e o agravamento das emissões de gases de efeito estufa têm "raízes" semelhantes.

O imperdível site Grist trouxe matéria com mais detalhes sobre o livro(link abaixo). Mas, além do link, eu não poderia deixar de aproveitar a excelente ilustração que eles usaram para a matéria.