domingo, 1 de novembro de 2009

Uma mancada

O professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite é um valoroso defensor do álcool combustível. Tem um papel extremamente importante na consolidação do programa brasileiro. E é autor de bons textos, com argumentação bem fundamentada, em resposta aos que ainda tentam se vender como céticos em relação ao aquecimento global(e quanto ao papel dos gases de efeito estufa para esse aquecimento). Esta semana, o professor resolveu se insurgir contra duas medidas do Ministério do Meio Ambiente que afetaram o álcool(ou etanol, nome internacionalizado que estão tentando emplacar também por aqui). No artigo("Uma mincada é uma mincada...") ele bate forte na gestão de Carlos Minc no MMA. Bem, acho que ele acertou num argumento, mas foi injusto em outro.
Também considero desastrada a iniciativa do MMA de divulgar um ranking de emissões de poluentes de veículos, desconsiderando diversos poluentes e fazendo uma confusão que acabou colocando os carros flex entre os "mais poluentes" do país. O ranking, ao final, não serviu pra nada, a não ser depreciar a tecnologia usada no Brasil.
No entanto, o professor ataca também a proibição da expansão da cultura da cana-de-açúcar para áreas do Cerrado, da Amazônia e de outros biomas importantes. Ele argumenta que a cana costuma apenas ocupar áreas já degradadas anteriormente pela pecuária ou outras culturas "decadentes". Leite aposta que a medida é desnecessária e vai servir de combustível(me desculpem o trocadilho) para aqueles que tentam manchar a imagem do álcool brasileiro no mercado internacional. Seria a prova de que o álcool pressiona a ocupação desses biomas. E argumenta ainda que houve uma preocupação em relação à cana, mas na verdade apenas retiraram essa cultura da disputa por terras valorizadas, facilitando a vida dos produtores de soja e dos pecuaristas, que verdadeiramente são os destruidores da região(e dominam a bancada ruralista, que o governo não teria coragem de confrontar).
Mas, caro professor, se a cana não precisa de terras no Cerrado ou na Amazônia, ela já estava fora da disputa com pecuaristas e produtores de soja. Certo? E o combate à ocupação dessas áreas deve ser feito, independentemente de qual seja a cultura. Em relação às argumentações no mercado internacional, os detratores já espalhavam antes que a cana estava pressionando pela ocupação dessas áreas. Agora, temos uma lei para responder a essas argumentações.
Eu estou entre os que consideram que o álcool combustível é sim um dos elementos do mix que pode nos ajudar a descarbonizar a economia mundial. Mas isso não significa que não devemos adotar salvaguardas para a expansão do uso do álcool. Seja aqui, seja fora. Sim, há uma mistura de disputa comercial com questões ambientais nessa área. Temos que estar atentos a isso. Mas a nossa defesa do uso do álcool também tem que considerar o impacto dessa cultura, para não repetirmos os erros do passado.

Para quem se interessou, o link para o artigo do professor(infelizmente, restrito a quem é assinante da Folha de S.Paulo, onde foi publicado):
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2910200908.htm

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