quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Richard Sennett - Juntos

O objetivo desse post é, basicamente, indicar a leitura de um livro que ainda não li. Trata-se de "Juntos - Os rituais, os prazeres e a política da cooperação", do sociólogo estadunidense Richard Sennett. É o segundo livro de uma trilogia que ele batizou de Homo Faber. Li o primeiro livro, "O Artífice", que é brilhante. Não vejo a hora de ler o segundo. Há uma entrevista dele para o programa Milênio, com o jornalista Lucas Mendes, em que explica a idéia e a proposta da trilogia e a razão da escolha do nome. Está reproduzida no site Consultor Jurídico, neste link: http://www.conjur.com.br/2012-set-14/ideias-milenio-richard-sennet-sociologo-professor-oxford . A entrevista, em si, já é um primor. Copio abaixo um dos melhores trechos, para que entendam porque o considero um dos pensadores mais interessantes da atualidade:
Lucas Mendes — O senhor disse que passou os últimos 15 ou 16 anos estudando o capitalismo moderno. Richard Sennett — Isso. Que bom que você fez essa pergunta! Lucas Mendes — Por que ele é pior do que o antigo capitalismo? Richard Sennett — Não é pior, ele é diferente. Lucas Mendes — Diferente como? Richard Sennett — Por muitas razões. Ele é mais global, obviamente, mas, na estrutura temporal deste capitalismo, o tempo tem uma configuração totalmente diferente da anterior. As empresas para as quais as pessoas trabalham são mais instáveis, elas não têm uma identidade corporativa, que precisa ser construída ao longo do tempo. O trabalho que as pessoas fazem é de curtíssimo prazo, e a relação entre os funcionários e a empresa é muito fraca, os laços que os unem são muito frágeis, de ambos os lados. É o substituto do que costumávamos chamar de “capitalismo social”... O capitalismo social era algo muito mais fluido e muito mais individualizado para o trabalhador. Nós começamos esta conversa falando da desigualdade. A desigualdade lucra com esse capitalismo de curto prazo. É como os investimentos atuam hoje em dia: é o retorno de curto prazo, em vez do lucro de longo prazo. É uma maneira de não se responsabilizar pelo futuro de nada. Então as pessoas estão vivenciando um mundo do trabalho muito mais fragmentado do que o dos nossos pais ou avós. E isso transformou as relações entre as classes sociais. Os conflitos sociais não são mais o que eram nos EUA ou no Reino Unido em meados do século 20, quando um corpo de trabalhadores lutava contra a classe empresarial para defender seus interesses. Esse corpo de trabalhadores está sempre mudando. A própria classe empresarial está mudando e desaparecendo o tempo todo. As próprias empresas são uma rede de componentes, uma espécie de arquipélago de atividades podemos dizer, em vez de algo inteiro. Não há nada contra o qual se possa lutar. Então, o que acontece nessa condição é que as pessoas que se beneficiam com isso são aquelas que estão no topo da estrutura, a elite. E, abaixo delas, temos estagnação. Estagnação com relação aos salários e à riqueza das pessoas, além de uma estagnação social em que as pessoas não criam laços no trabalho, não se conectam com outros trabalhadores, em que a consciência diminui... Como nós dois somos bons marxistas, queremos a luta de classes. Lucas Mendes — Você é socialista... Richard Sennett — Você entende o que eu digo. O capitalismo passou por uma enorme mudança nos últimos 25 anos, a maior transformação desde a Primeira Revolução Industrial. Mas eu sou socialista. Lucas Mendes — O que é ser socialista hoje? O que vocês fazem? Richard Sennett — Nos reunimos em porões escuros, fumamos muitos cigarros... Lucas Mendes — Que tipo de conspiração? Richard Sennett — Nós conspiramos. Bem... Vou lhe dar uma resposta séria sobre o que é esse livro sobre cooperação. Porque é, na verdade, um livro político. Eu acho que nós temos... Vou responder da seguinte maneira. No início do século 20, havia uma grande divisão no socialismo europeu entre o que chamávamos de esquerda social e esquerda política. A esquerda social eram organizações comunitárias, bancos locais, que trabalhavam de baixo para cima. A esquerda política — e isso era antes de Lênin — funcionava de cima par baixo: grandes sindicatos, partidos políticos formais, esse tipo de diretrizes que as massas seguiam. Durante a maior parte do século 20 — pelo bem e principalmente mal —, a esquerda política foi dominante. Era uma estrutura que mobilizava o poder burocrático de cima para baixo, em nome da justiça. Agora, acho que, hoje, dada a natureza do capitalismo, o que nós, da esquerda, devemos fazer é reconstruir o social de baixo para cima. E eu me interesso por essa forma complexa de cooperação porque, quando as pessoas desenvolvem habilidades, elas conseguem cruzar, nas comunidades ou nas cidades, esses limites de classe, raça etc., para começar a cooperar umas com as outras. Os políticos sempre me enojam. É uma espécie de sedução ou moralização em nome do povo de que eu não gosto. Esse é um preconceito meu, uma cegueira minha, mas eu realmente acho que nós, da esquerda, precisamos construir instituições de baixo para cima.
Obs.: Em pesquisa de preços no site Buscapé achei hoje, 3 de outubro de 2012, por R$ 34,11, no site do Extra.

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