domingo, 6 de junho de 2010

Sintomático

Como fiquei muito tempo sem escrever no blog, só percebi depois de ter publicado. Mas o último post foi o segundo em que elogio Bresser-Pereira. Juro que não é campanha! Mesmo porque, que eu saiba, ele não é candidato a nada. E, além disso, tem um currículo que dispensa meus comentários elogiosos.
Na verdade, pra mim essa repetição é uma demonstração de quanto está me incomodando esse clima de falta de discussões de propostas e esse mergulho no vazio da atual campanha política. De um lado, se discute quem seria o responsável pela tentativa de montagem de uma equipe para preparação de um eventual dossiê! Do outro, o candidato se pega numa discussão sobre as políticas adotadas pela Bolívia! Quando serão apresentados os projetos e propostas? Bem, a esperança é que depois da Copa do Mundo se leve a campanha a sério...

Sim, ainda há honestidade intelectual

Nestes tempos de "Fla X Flu" político, nos quais ou se concorda totalmente com um dos lados ou se é considerado inimigo, quero destacar a honestidade intelectual e a coerência ideológica de um dos economistas mais subestimados dos últimos tempos: Luiz Carlos Bresser-Pereira. Sim, ele mesmo: ex-ministro da Fazenda no governo Sarney e autor de um dos planos fracassados para conter a inflação à época, plano que gera passivos para o Estado brasileiro até hoje. Mas também o primeiro a ter coragem de implantar uma reforma gerencial no governo. Uma reforma que beneficia o país até hoje e que precisaria ser aprofundada. E alguém que mesmo em relação aos seus erros à época de ministro, deveria ter sua atuação analisada à luz do contexto histórico e político. Como se deve fazer em relação a qualquer pessoa.
Seus artigos são um alento e, frequentemente, uma ilha de sensatez em meio a um mar de intolerância e incompreensão. Apesar de ser um tucano de alta plumagem, ele não leva isso em consideração ao escrever seus artigos ou ao formular suas propostas. Ele mantém a coerência intelectual na defesa de um projeto de desenvolvimento sem financiamento externo. Um país, para se desenvolver, não pode depender do dinheiro dos outros. Bem a grosso modo é essa a idéia-chave por trás do pensamento de Bresser-Pereira. E na defesa desse projeto ele não evita criticar políticas ou as medidas de governos do seu partido ou de partidos adversários. Ou elogiá-las, também sem pedir a carteirinha partidária de quem as implantou.
Um exemplo claro dessa coerência e dessa honestidade intelectual está na Folha de S.Paulo de hoje(06/06/2010), no artigo "Guerras modernas irracionais", no qual ele faz uma análise lúcida sobre a reação dos EUA ao acordo fechado por Brasil e Turquia junto ao Irã. Trata-se de uma análise que basicamente aborda o tema sob uma perspectiva Realista(uma das teorias das Relações Internacionais). E que usa essa ferramenta teórica para atingir uma compreensão desapaixonada do assunto. Simples assim.
Para quem quiser conhecer mais do pensamento de Bresser-Pereira, recomendo o site do próprio economista e professor da FGV(http://www.bresserpereira.org.br/). E para recomendar uma leitura sobre um tema mais diretamente relacionado com este blog, indico o texto "Mudança do Clima e Interesses", no qual ele, mais uma vez brilhantemente, analisa as motivações dos ataques à ciência do clima e suas conclusões sobre a necessidade de mudança na economia e na sociedade(http://www.bresserpereira.org.br/view.asp?cod=3834).